Acaba de ser publicado um artigo em revista internacional que mostra como foi desenvolvida, de forma completa, a ferramenta FPS (Fazenda Pantaneira Sustentável), programa criado pela Embrapa Pantanal (Corumbá, MS), em parceria com a Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP). As pesquisas que culminaram no sistema FPS começaram há cerca de 15 anos por equipe multidisciplinar e levantaram indicadores que revelam o nível de sustentabilidade de propriedades rurais do Pantanal.
O artigo, denominado “A fuzzy logic-based tool to assess beef cattle ranching sustainability in complex environmental systems” (Uma ferramenta baseada em lógica difusa para avaliar a sustentabilidade de fazendas de gado em sistemas ambientais complexos), foi aceito e publicado por uma das mais conceituadas editoras científicas do mundo, a Elsevier. A revista se chama Journal of Environmental Management e toda a equipe de pesquisadores assina a publicação (veja os nomes ao final deste texto).
De acordo com a pesquisadora Sandra Aparecida Santos, responsável pelas pesquisas e pela publicação, o artigo foi submetido em 2015 e publicado neste mês de maio de 2017. Durante 50 dias, o acesso será livre. Depois disso, a revista bloqueia a leitura, que passa a ser paga, porém, o artigo pode ser solicitado para quaisquer um dos autores.
“Somos 17 autores e isso é muito bom. Foi um trabalho realmente multidisciplinar e que agora se consolida”, explica a autora. Um detalhe interessante é que para ser aceito por uma publicação deste nível, o trabalho deve ser atrativo para o mundo. Por isso, o artigo não trata especificamente do Pantanal, mas de ambientes complexos e dinâmicos.
Outros trabalhos envolvendo os protocolos de cada um dos atributos que compõem o FPS foram publicados ao longo dos anos, de forma isolada, na Série Embrapa – publicações da empresa dirigidas aos produtores e outros públicos ligados à agropecuária. Os indicadores sociais, de pastagens, de água, econômicos e de viabilidade regional são exemplos. No evento Geopantanal (simpósio sobre geotecnologias no Pantanal) foi divulgado o estudo que foca os indicadores utilizados para avaliar o potencial de aptidão produtiva de uma fazenda.
Agora, com a publicação da Elsevier, a equipe demonstra a base de todo o sistema, ou seja, o funcionamento da ferramenta como um todo. Sandra explica que a revista se interessou pela lógica difusa, considerando seu uso uma inovação para a mensuração dos índices de sustentabilidade de propriedades rurais e que podem ser adaptados para diferentes sistemas de produção.
Utilizando uma analogia bem simples, essa lógica significa que entre o branco e o preto existe a tonalidade cinza, ou seja, um espaço de incertezas e nebulosidades. “A Embrapa Informática Agropecuária ajudou muito a detalhar, no artigo, o uso da lógica difusa na ferramenta”, diz Sandra. A Unidade de Campinas criou dois programas para rodar o FPS – trabalhos também já publicados por esses pesquisadores e citados no artigo. O uso da lógica difusa possibilitou lidar com as incertezas, “porque no Pantanal nada é exato, tudo é dinâmico”, resume ela.
As faixas dos indicadores são igualmente dinâmicas e o sistema leva em conta a opinião dos experts nos assuntos, que podem ser pesquisadores, produtores rurais ou qualquer especialista no assunto que auxilie na criação de regras de decisão que são inseridas no sistema FPS. O Fazenda Pantaneira Sustentável mede o grau de sustentabilidade (boa, regular, ruim) para cada um dos atributos, dimensões (social, econômica e ambiental) e também para o sistema como um todo. Os indicadores de sustentabilidade foram validados em workshops e vão continuar sendo validados com o uso do sistema.
Os principais projetos que desenvolveram o FPS foram encerrados, mas a Embrapa Informática Agropecuária continua trabalhando no desenvolvimento de um aplicativo para celular, que futuramente será disponibilizado ao público. Por enquanto, o programa ainda não está disponível, pois passou por ajustes no final do ano passado. “E continuará sendo adaptado, pois pretende-se ajustá-lo conforme o avanço dos conhecimentos”, afirma.
Sandra conta que a equipe estuda a possibilidade de disponibilizar o FPS para dois tipos de usuários: um deles para uso profissional, por pessoas capacitadas e que possam utilizá-lo para auxiliar na certificação das fazendas, por exemplo. O outro é o usuário comum, que queira conhecer e manipular a ferramenta sem fins de certificação, efetuando simulações.
Mesmo sem esconder a satisfação com a publicação, Sandra comenta que se sentirá realizada quando o sistema estiver sendo adotado pelos proprietários rurais. “Essa é a nossa missão.” Confira os autores do trabalho: Sandra Santos, Helano Póvoas de Lima, Silvia Massruhá, Urbano de Abreu, Walfrido Tomás, Suzana Salis, Evaldo Cardoso, Márcia Divina de Oliveira, Márcia Toffani Soares, Antonio dos Santos Jr., Luiz Orcírio de Oliveira, Débora Calheiros, Sandra Mara Crispim, Balbina Soriano, Christiane Amâncio, Alessandro Pacheco Nunes e Luiz Alberto Pellegrin.
A pesquisadora lembra que por trás destes autores está grande parte da equipe da Embrapa Pantanal e muitos produtores rurais, que contribuíram para o andamento das pesquisas.
Ana Maio (MtB 21.928)
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